Crítica da série Outra Vida (Another Life)

Finalmente a nova série da Netflix de ficção científica, Outra Vida (Another Life), estreou e como um dos consumidores do gênero gastei meu tempo com esta obra. E ai fica a pergunta, valeu a pena assistir? Bom, respondendo de forma curta, eu diria que com certeza.
A série foi lançada dia 25 de julho de 2019, iniciei no dia 26 a noite e tive que terminar no dia 27 (dia qual escrevo esta análise). A série é boa, possui alguns defeitos de narrativa e algumas quedas no enredo, mas nada que não esteja presente na maioria das séries e filmes do gênero com um baixo orçamento. Antes de iniciar essa análise eu adianto, está série vai alvoroçar aqueles amantes reacionários e conservadores de obras de ficção científica.
A trama gira entorno de uma tripulação abordo da nave interestelar Salvare, com a missão de fazer contato com uma espécie alienígena que enviou uma forma de artefato para a terra. Sem conseguir contato com o artefato e claro sem entender as intenções de seus criadores, a raça humana (já muito mais avançada tecnologicamente e culturalmente) envia para o espaço uma missão “basicamente” diplomática. Para isso se concretizar temos aqui motores espaciais com 3 vezes a velocidade da luz, comunicadores espaciais de vários anos-luz da terra, mapeamento do espaço profundo muito avançado, desenvolvimento do dito SOMA (sistema de “sono profundo” ou “hibernação induzida”) para viagens muto longas e claro uma inteligência artificial chamada William (que rouba muito o protagonismo da série) interpretada por Samuel Anderson.
Lembram quando eu disse que a série iria alvoroçar os amantes reacionários e conservadores de obras de ficção científica? E que nossa civilização está muito mais avançada tecnologicamente e CULTURALMENTE? Se sim, isso é pelo fato de que nos temos aqui diversas personagens mulheres, muito fortes e em papéis de destaque, como a nossa protagonista principal, a astronauta e comandante da missão Nico (Katee Sackhoff), ou as outras mulheres que vão ganhando destaque durante toda a série como a chefe da missão, General Dubois (Barbara Williams), a Chefe de comunicações e esquentadíssima Michelle Vargas (Jessica Camacho), a chefe de engenharia August (Blu Hunt), a imediata e piloto principal Cas (Elizabeth Ludlow) e a popular influenciadora na mídia da terra Haper Glass (Selma Blair). Além destas mulheres, temos ainda a chefe médica da expedição e trans Zayn Petrossian (interpretada por JayR Tinaco). Sobra espaço ainda de referência a um segundo chefe de comunicações Gay assumido (e que já é casado legalmente na terra), assim como a série conta com uma liberdade de discurso muito forte quanto ao empoderamento feminino, liberdade de escolha de parceiros, ciclos amorosos entre três personagens consentidamente, a formação de um par romântico homo afetivo, a relação homem x máquina e a possibilidade de desenvolvimento de sentimentos pela inteligência IA e discurso acerca da decisão de abortar ou não uma criança (evitarei mais spoilers para não perder as surpresas da série).
Ressaltei esses pontos, pois acredito que boa parte das notas negativas que estão surgindo (analisando-se os comentários destas) são principalmente por estes acontecimentos ou fatos.
Bem, sabendo-se disto, a série Outra Vida, trabalha muito com uma colcha de retalhos de outras obras Sci-Fi já existentes, porem tentando criar algo novo e potencialmente bom, tentando trazer alguns fatos científicos a série consegue trabalhar bem com o seu orçamento e roteiro, mesmo que em alguns momentos a narrativa não se desenrole tão bem como imaginada pelos criadores e sentida pelos espectadores, existem momentos WTF, momento OMG e momento MAS HEIN?! nesta série.
Então como o marido de nossa protagonista Erik Wallace (Justin Chatwin) mantenha a mente aberta para assistir Outra Vida, mergulhe nos discursos acerca da vida, levantados por William.
Repense a que ponto nossa sociedade vai, pois durante toda série se fala sobre o aumento da população, a desigualdade social, marginalização de grupos de humanos, questões acerca da água e da exploração espacial, guerras humanas, outras espécies alienígenas que podem nos matar, vindas dos locais mais improváveis possíveis, e claro, como podemos não estar sozinhos no espaço. Outra Vida pode não ser nem de perto um Interestelar, ou uma série tão ampla como Star Trek ou Battlestar Galactica. Mas com certeza vem para marcar um ponto positivo e que renova alguns estereótipos acerca dos seriados de ficção científica, dando mais espaço para que mulheres e comunidades antes marginalizadas possam se identificar com os personagens, abrindo novos horizontes e discursos que hoje estão em alta em nossa sociedade.
Espero que estas negativações não façam a Netflix cancelar a segunda temporada, pois temos um ótimo possível enredo para uma sequência interessantíssima desta obra.
Minha avaliação da obra é uma nota 3,5 de 5.

Crítica – Iboy (2016)

Vagando pelo catálogo da Netflix me chamou a atenção um filme intitulado Iboy, considerado o primeiro longa-metragem original da companhia que conta a história de um super-herói, ainda que estejamos falando de algo bem diferente do que a Marvel e a DC Comics tem apresentado, o filme é digno de ganhar destaque. Com uma premissa não muito inovadora, mas interessante, Iboy nos apresenta ao jovem Tom (Bill Milner, X-men: Primeira Classe), um adolescente comum que vive na periferia de uma cidade britânica com sua avó, criado por ela devido a morte de sua mãe que tinha envolvimento com o vício em drogas.

Tom é um garoto tímido e deslocado, onde vale se ressaltar o bullying sofrido na escola,  devido ele não se declarar para sua amiga Lucy (Maisie Williams, Game of Thrones). Uma noite após a aula este vai visitar sua amiga e acaba presenciando um ataque de gangue a família dela, onde ela é estuprada por um bando de jovens encapuzados e seu irmão espancado (ah, tudo registrado por vídeo). Ao tentar fugir e ligar para a polícia ele leva um tiro na cabeça, quando acorda do coma de dez dia, ele descobre que partes de seu Smartphone ficaram alojados dentro de seu cérebro, o que dá a ele  a habilidade de se conectar com qualquer objeto eletrônico ou criar pulsos sonoros e eletromagnéticos.

Tomado pela raiva de ver sua paixão traumatizada pelo ataque e com senso de justiça e vingança, Tom torna-se Iboy, uma espécie de Super-Hacker e Justiceiro Social que decide encontrar os culpados do estupro e desmantelar a rede de tráfico de drogas que controla a periferia onde ele vive. Como muitos filmes de super-heróis, Iboy segue a mesma linha de coisas improváveis que normalmente matariam alguém, mas que fazem dele alguém especial. Não merecendo aqui uma critica maior ou menor, uma vez que não é algo novo. Porém, o filme por ter uma premissa bem forte me lembra uma mistura de um mundo sombrio do Batman, porem com um personagem no estilo Peter Parker no mundo de Watch Dogs, só que na Inglaterra.  

O filme é baseado na história homônima de Kevin Brooks, com o roteiro de Joe Barton (O Ritual de 2017 e Meus Dias de Compaixão de 2019) e direção de Adam Randall (Fim do Jogo de 2016), o roteiro, mesmo um pouco lentamente nos faz se descobrir junto ao protagonista os seus poderes e possibilidades, o que é algo divertido ao ponto que ele torna a obra mais palatável. Além disso Iboy novamente nos leva a um filme da Netflix, onde problemas sociais não são censurados, o que nos garante uma retratação nua e cura de nossa sociedade, onde a violência e o tráfico de drogas, capta jovens da periferia, fazendo com que estes façam atos bárbaros contra aqueles que vivem junto a eles, em nome da fama, respeito e claro dinheiro.

Os efeitos especiais conseguem agradar muito no decorrer da obra, mesmo com eu baixo orçamento o filme consegue apresentar na tela algo que nos faz entender o que, como e por qual motivo ele faz aquilo, tudo de forma muito intuitiva, como seria se realmente tivéssemos esses poderes. Porém vale ressaltar, que ao contrário da maioria das obras de super-heróis, temos neste um pingo de realidade ao perceber que o caminho trilhado pelo protagonista é perigoso e com ele sente-se a vulnerabilidade que este se encontra, pois como a cena onde o chefe manda invadir a casa de cada um dos moradores do complexo e aprende-se todos os eletrônicos, nos mostra que ele ainda esta vulnerável. Por mais que ele tenha toda a tecnologia ao seu lado, ele ainda possui o mesmo físico e condições, podendo ser alvejado ou mesmo descoberto durante todas suas missões e cada vez mais elas chamam atenção.


Mas nem tudo são linhas de programação corretas e certeiras, o filme comete vários erros na narrativa, dando muito foco a personagens dispensáveis, que seria melhor compreendido em uma série, mas não em um filme. Ao mesmo tempo que seu final acaba sendo jogado rápido de mais, não obedecendo a narrativa já apresentada anteriormente, mudando a perspectiva de vermos junto ao protagonista, para assistirmos o protagonista agir. 

  1.  Minha avaliação da obra é uma nota 4 de 5.